O ensino secundário em Portugal está num beco sem saída. Passamos anos a dizer aos jovens o que devem ser, mas raramente lhes perguntamos quem querem ser. Imagina-te com 15 anos, sentado numa sala de aula, a decorar datas para um teste que vais esquecer na semana seguinte. Enquanto isso, a tua cabeça está noutro lado: talvez queiras construir coisas com as mãos, criar música, programar jogos ou abrir um negócio. Mas o sistema não te dá espaço para explorar isso. Diz-te, em vez disso, que o teu valor está numa nota de exame, numa fórmula matemática ou numa análise literária que nunca vais usar. É justo?

Pensemos: o ensino secundário devia ser uma ponte para o futuro, não uma linha de montagem. Três anos podiam ser suficientes para deixar os jovens experimentarem, falharem, descobrirem. Um sistema que oferecesse caminhos diferentes, como: ciências, artes, tecnologia, ofícios, o que fosse e que os ajudasse a perceber que projeto de vida faz sentido para eles. Mas, em vez disso, continuamos presos a um modelo que idolatra a memorização e ignora o que realmente torna cada pessoa única. Quantos talentos ficam pelo caminho porque o sistema não os viu? Quantos miúdos desistem porque sentem que não encaixam?
O problema não é só a falta de recursos ou de professores embora isso também pese. É a mentalidade. Valorizamos demasiado as competências que cabem num boletim de notas e esquecemo-nos daquelas que mudam o mundo: a criatividade, a resiliência, a capacidade de olhar para um problema e dizer “eu resolvo isto”. Enquanto continuarmos a formar alunos para passar exames em vez de os preparar para a vida, estaremos a falhar-lhes. E a nós próprios.
Não me entendam mal: mudar não é fácil. Exige coragem, tempo, vontade. Exige que paremos de culpar “o sistema” e comecemos a perguntar o que podemos fazer professores, pais, políticos, todos nós. Porque, no fim de contas, o futuro não é uma abstração. São os jovens que hoje estão nas nossas escolas, a tentar perceber quem são. Se não lhes dermos as ferramentas para sonhar grande, que direito temos de lhes cobrar resultados?
Quem quer faz, quem não quer arranja desculpas.
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