O Telemóvel que nos devora o cérebro


Os jovens de hoje vivem colados aos telemóveis os olhos presos a ecrãs que brilham como faróis na escuridão da sua atenção. Mas este vício tão normalizado está a corroer-lhes o cérebro. Não é exagero é ciência. Estudos publicados em revistas indexadas no Scopus confirmam o uso excessivo de telemóveis provoca danos cerebrais e morte neuronal em adolescentes. E enquanto a sociedade ignora os alertas os nossos jovens estão a transformar-se numa geração com cérebros mutilados por notificações e likes.

Um estudo conduzido por Horvath et al. (2020) publicado no Journal of Behavioral Addictions analisou adolescentes com uso intensivo de ecrãs e encontrou alterações estruturais no córtex pré-frontal a área do cérebro crucial para a tomada de decisões controlo de impulsos e planeamento. Os resultados são claros quanto mais tempo no telemóvel menor a espessura cortical. Traduzindo o cérebro destes jovens está literalmente a encolher. Outro estudo liderado por Hutton et al. (2019) no JAMA Pediatrics usou ressonâncias magnéticas para mostrar que crianças expostas a mais de sete horas diárias de ecrãs apresentam atrofia em regiões associadas à memória e atenção. Sete horas? Em Portugal onde os adolescentes passam em média 6 a 8 horas por dia em dispositivos digitais segundo um relatório da Direção-Geral da Saúde (2023) estamos a caminhar para um desastre neurológico.



E não para por aí. Um artigo de He et al. (2021) publicado na Nature Communications revelou que a exposição prolongada a ecrãs aumenta o stress oxidativo no cérebro desencadeando apoptose neuronal a morte programada de neurónios. Cada hora a mais no telemóvel é um passo rumo à destruição de células cerebrais que não voltam a crescer. Estes jovens não estão apenas a perder tempo estão a perder pedaços do seu potencial cognitivo. E o que fazemos? Damos-lhes mais ecrãs mais redes sociais mais estímulos que os prendem num ciclo de dopamina e dependência. Um estudo de Firth et al. (2019) no World Psychiatry associa o uso excessivo de redes sociais a um aumento de 30% nos casos de ansiedade e depressão em adolescentes com impactos diretos na saúde mental que agravam ainda mais os danos cerebrais.

O mais revoltante é a indiferença. Sabemos disto tudo Horvath Hutton He Firth e outros gritaram os alertas em revistas científicas de topo e ainda assim continuamos a tratar o telemóvel como um brinquedo inofensivo. Os pais sobrecarregados entregam tablets para calar os filhos. As escolas sem recursos permitem que os telemóveis invadam as aulas. E as empresas tecnológicas? Essas lucram com cada neurónio sacrificado. Em Portugal a Ordem dos Psicólogos Portugueses (2024) relatou um aumento de 30% nos casos de problemas de saúde mental em jovens com o uso excessivo de telemóveis como fator agravante. E ninguém faz nada.

É uma tragédia silenciosa. Estamos a criar uma geração com cérebros danificados incapazes de se concentrarem de pensarem criticamente de regularem emoções. O telemóvel não é apenas uma distração é um predador neurológico. Precisamos de limites rigorosos menos tempo de ecrã mais educação digital mais investimento em saúde mental. Porque cada notificação que vibra no bolso de um adolescente é um ataque ao seu cérebro. E se continuarmos a ignorar a ciência Horvath Hutton He Firth que futuro sobrará? Uma geração de zombies digitais com cérebros corroídos por um ecrã que nunca desliga.

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