Era mais uma sexta-feira, o sol a espreitar tímido por entre as nuvens, e as escolas, essas, silenciosas. Portões fechados, salas vazias, crianças em casa ou entregues aos malabarismos dos pais que, entre reuniões e prazos, tentam equilibrar o impossível. A educação, dizem, é o pilar de uma sociedade. Mas, ultimamente, parece que esse pilar anda a tremer e sempre ao som do apito das greves, marcadas, curiosamente, para o final da semana. Será coincidência? Ou haverá aqui uma estratégia subtil, um aproveitamento que deixa os alunos, as famílias e, no fundo, todos nós, a pagar a fatura?
Não é novidade que os professores têm razões para gritar. Salários que não acompanham a inflação, condições de trabalho que se deterioram, promessas políticas que se evaporam como água ao sol. Quem não entende isso? Eu próprio, sinto vontade de erguer a voz, mas faço-a estrategicamente sem comprometer a minha função, obrigação e acima de tudo, os outros. Mas as greves às sextas-feiras, sempre às sextas-feiras, deixam uma pulga atrás da orelha. Será que o objetivo é mesmo pressionar o Governo, chamar a atenção para os direitos legítimos, ou será que, de algum modo, se transforma numa ponte para um fim de semana prolongado? Um dia a menos de aulas, um dia a mais de descanso. E, enquanto os grevistas descansam, os alunos perdem. Perdem aulas, perdem rotina, perdem o fio à meada de uma aprendizagem que já anda tão fragilizada.
Penso nos miúdos que ficam em casa, especialmente aqueles cujos pais não têm como os acompanhar. Uns ligam a televisão, outros agarram-se aos telemóveis, e o que aprendem? Nada que um professor apaixonado lhes ensinaria numa sala de aula. E as famílias? Essas, desesperam. Há quem falte ao trabalho, quem pague explicações, quem improvise. A sociedade, essa máquina complexa que depende de cidadãos formados, vai-se arrastando, com mais um buraco no sistema. António Nóvoa, um pedagogo português que sabe do que fala, escreveu um dia que “a educação é um ato de esperança”. Mas onde fica essa esperança quando o calendário escolar parece um puzzle incompleto?
Claro que os sindicatos dirão que não há escolha. Que as sextas-feiras são estratégicas, que é quando a mensagem ecoa mais alto, que o impacto se sente. E eu pergunto: impacto em quem? Nos governantes, que muitas vezes parecem surdos, ou nos alunos, que são os primeiros a sofrer? Educar não é só um emprego. É uma vocação, uma paixão, um compromisso que vai além de horários e contracheques. Não deveria ser, acima de tudo, sobre os que estão nas carteiras, de olhos curiosos, à espera de quem os guie? Quando as greves se tornam rotina, e sempre ao sabor de um dia tão conveniente, fico a pensar se os valores éticos e morais que sustentam esta profissão não estarão a ser ofuscados por interesses mais terrenos. Mais sindicais. Mais financeiros.
Não me interpretem mal. Os professores merecem respeito, melhores salários, dignidade. Mas será esta a forma? Será que o preço pago pelos alunos — e por todos nós — justifica o ganho? E se, em vez de parar às sextas, se parasse o país numa segunda-feira, com todos unidos — professores, pais, cidadãos? Talvez aí o Governo tremesse de verdade. Talvez aí a educação não fosse a eterna sacrificada.
Pensemos! o que querem os grevistas ensinar com estas paragens? Que os direitos se conquistam, custe o que custar? Ou que, no fundo, há quem prefira gritar em vez de construir? Se a educação é o futuro, por que razão parece sempre ser a primeira a ser posta em pausa? E nós, que fazemos enquanto sociedade, além de apontar o dedo?
Porque afinal, quem quer faz; quem não quer arranja desculpas.
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