Sabe aquele momento em que percebemos que algo está mesmo errado? É isso que sinto quando penso no estado da educação em Portugal. Não é só uma questão de números, de falta de recursos ou de políticas mal desenhadas, embora tudo isso pese. O problema é mais fundo, mais humano. Portugal não precisa de mais professores a cumprir horários, a passar testes no final do semestre ou a apontar o dedo aos alunos que “não aprendem”. Precisamos, sim, de profissionais que vivam e respirem a educação, que sintam um fogo interno por ensinar, por formar, por transformar vidas.
Quando era miúdo, lembro-me de um professor que me marcou. Não era por ser a mais rígido ou por nos encher de testes. Era porque ele descia ao nosso nível, desafiava-nos, deixa-nos desconfortáveis mas envolvia-nos na sua história de vida que levava para dentro da sala. Ele não se limitava a despejar matéria; contava-nos o seu dia a dia, tal como um avô junto de uma lareira, fazia-nos questionar, dava-nos espaço para errar e crescer. Era apaixonado pelo que fazia (dentro e fora da escola), era um professor que acumulava funções com outra profissão, e essa profissão levava-a para dentro da sala de aula, e isso mudava tudo. Hoje, olho para o sistema educativo e pergunto-me: onde estão esses profissionais? Onde estão as pessoas que entram numa sala de aula com a missão de despertar curiosidade, de mostrar aos alunos que eles são capazes, mesmo quando eles próprios duvidam? Onde estão so professores que levam as suas historias reais, na primeira pessoa, para dentro da sala de aula?
Não me interpretem mal. Há professores fantásticos por aí, que lutam contra um sistema que muitas vezes os desmotiva, com burocracias intermináveis, salários que não refletem o seu valor e turmas tão grandes que mal conseguem dar atenção a cada aluno. Mas também há quem se limite a “dar aulas”, a cumprir o programa, a corrigir testes e a dizer “este aluno não aprende” ou “nunca vai ser capaz”. E isso, meus amigos, não é ensinar. Isso é desistir.
Ensinar não é só passar conteúdos. É perceber que cada aluno é uma pessoa, com sonhos, medos e uma história única. É ter paciência para explicar a mesma coisa de mil formas diferentes até que faça sentido. É celebrar as pequenas vitórias – aquele momento em que o aluno que achava que “não era bom a matemática” resolve um problema e sorri. Precisamos de profissionais que vejam o ensino como uma missão diária, que entrem na sala de aula com energia e saiam exaustos, mas felizes, porque sabem que fizeram a diferença.
O sistema educativo português precisa de uma revolução, mas não é só de mais dinheiro ou melhores manuais. Precisa de pessoas que acreditem no poder da educação. Que não se contentem com um “pronto, dei a matéria, agora é com eles”. Que não vejam um aluno com dificuldades e pensem logo “ele não tem jeito”. Queremos profissionais que inspirem, que mostrem aos miúdos que aprender é uma aventura, não uma obrigação. Que os façam acreditar que são capazes, mesmo quando o mundo lá fora lhes diz o contrário.
Porque, no fim do dia, a educação não é sobre testes ou notas. É sobre formar pessoas. Pessoas que pensem, que questionem, que sonhem alto. E isso não se faz com professores que só cumprem horários. Faz-se com apaixonados pela educação, que vivem para ver os olhos de um aluno a brilhar quando finalmente entende algo novo. Portugal precisa disso. Os nossos miúdos merecem isso.
Afinal de contas, basta aprender com o passado, precisamos de mestres (de ofícios) na nossa educação!
Porque quem quer faz, que não quer arranja desculpas!
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