A Educação em Portugal na era dos youtubers

 Em 2025, a educação em Portugal está num cruzamento perigoso: de um lado, a escola, com as suas carteiras alinhadas, manuais gastos e professores que ainda acreditam que um PowerPoint com 47 slides é o pináculo da inovação pedagógica; do outro, o mundo digital, onde os nossos jovens são educados por youtubers, influenciadores e TikToks de 15 segundos que prometem ensinar "tudo o que a escola não ensina". E, convenhamos, não é difícil perceber por que é que um vídeo com dicas para "ficar rico em três passos" ou "hacks para a vida" ganha de goleada a uma aula sobre a fotossíntese ou as equações de segundo grau. A questão é: o que fazemos com esta realidade? Ficamos a lamentar o fim dos tempos ou arregaçamos as mangas?



Os nossos jovens não estão a abandonar a escola pelo menos, não fisicamente. Mas mentalmente? Estão a anos-luz. Enquanto o professor explica o ciclo da água, o aluno está a imaginar-se como empreendedor digital, inspirado por um influenciador que "venceu na vida" aos 22 anos. E, sejamos honestos, a culpa não é só do aluno. A escola, com o seu modelo saído de um museu do século XX, não está preparada para competir com a velocidade, o carisma e a promessa de relevância imediata do mundo online. Os youtubers falam a linguagem dos jovens: direta, visual, prática. Já a escola insiste em monólogos que parecem ensaios para um documentário da RTP Memória.

Os desafios são brutais. Primeiro, a escola perdeu o monopólio do conhecimento. Qualquer adolescente com um smartphone tem acesso a mais informação do que um professor universitário tinha há 30 anos. Mas informação não é conhecimento, e é aí que a escola falha redondamente: não ensina a filtrar, a questionar, a pensar criticamente. Os influenciadores enchem os miúdos de sonhos de riqueza fácil e frases motivacionais, mas quem os ensina a distinguir um esquema de pirâmide de um plano de carreira? Quem os prepara para um mundo onde a inteligência artificial faz metade dos trabalhos e a desinformação é a outra metade?

Segundo, os professores estão desarmados. Muitos ainda acreditam que a autoridade vem do quadro e do giz, mas os alunos já não respeitam quem só sabe debitar matéria. Querem alguém que os inspire, que os desafie, que mostre que o conhecimento é uma ferramenta para navegar o caos do mundo real, não um fim em si mesmo. E, sim, isto é uma crítica dura: há docentes que se escondem atrás do manual como se fosse um escudo, com medo de sair da zona de conforto. Mas também há os outros, os que tentam, os que inventam, os que falam de criptomoedas na aula de economia ou de ética digital na de filosofia. Esses são os que fazem a diferença.

Então, o que devem os professores fazer? Antes de mais, assumir a responsabilidade. Não dá para culpar os youtubers, os pais ou os miúdos. A escola tem de ser um lugar onde se aprende a viver no século XXI, não a sobreviver a ele. Isso significa mudar tudo: a forma de dar aulas, os conteúdos, a postura. Chega de PowerPoints intermináveis – usem vídeos, debates, projetos práticos. Ensinem literacia digital, mas a sério: como detetar fake news, como gerir a pegada online, como não cair em scams. Falem de inteligência artificial, de sustentabilidade, de saúde mental, de finanças pessoais. E, acima de tudo, sejam humanos. Mostrem paixão, contem histórias, admitam que não sabem tudo. Os alunos não querem um robot a ler slides; querem um guia que os ajude a descodificar o mundo.

Isto não é fácil. Exige formação, tempo, energia. Exige que os professores saiam da bolha do "sempre se fez assim" e enfrentem o desconforto de aprender com os próprios alunos. Exige que o Ministério da Educação pare de tratar os docentes como burocratas e lhes dê liberdade para inovar. Mas, acima de tudo, exige coragem. Porque é mais fácil culpar o sistema, os miúdos ou os influenciadores do que olhar no espelho e dizer: "Eu posso fazer melhor."

Quem quer faz, quem não quer arranja desculpas.

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