Em Portugal, a educação é um campo de batalha onde os sonhos dos alunos e a dedicação dos professores se cruzam com as barricadas das lutas sindicais. Há quem diga que os sindicatos, esses guardiões históricos dos direitos laborais, estão a tornar-se, paradoxalmente, os carrascos do progresso educativo. Não por má-fé, claro, mas por uma visão que, ao focar-se quase exclusivamente nos anos de serviço, parece despromover a meritocracia, sufocar a inovação e, em última análise, comprometer o futuro da escola pública. Esta crônica é um grito, um lamento, mas também uma reflexão apaixonada sobre o que está em jogo.
Os sindicatos de professores, como a FENPROF e o SIPE, têm uma história de luta admirável. Décadas de greves, vigílias e petições moldaram conquistas que ninguém pode negar: a recuperação do tempo de serviço congelado, melhores condições para docentes deslocados, proteção contra a violência nas escolas. Em 2024, por exemplo, o acordo com o Ministério da Educação permitiu que 91.275 professores chegassem aos escalões mais altos da carreira, com salários entre 2.658 e 3.613 euros brutos até julho de 2027. Uma vitória, sem dúvida, fruto da persistência sindical. Mas a que custo?
O cerne do problema está na forma como essas lutas são travadas. A carreira docente, tal como está estruturada, valoriza acima de tudo o tempo. Anos de serviço são o bilhete dourado para progressões e aumentos, enquanto as competências, a inovação e o impacto real na sala de aula ficam muitas vezes na sombra. Um professor que transforma as suas aulas com métodos criativos, que investe em formação contínua ou que inspira os alunos a irem além do currículo não vê esse esforço refletido na sua progressão. Em vez disso, o relógio é rei. E esta lógica, defendida com unhas e dentes por muitos sindicatos, cria uma cultura de estagnação, onde o mérito é um convidado indesejado.
Pensem nisto: um jovem professor, cheio de ideias, entra numa escola com projetos inovadores – talvez aulas que integrem tecnologia, ou métodos que coloquem o aluno no centro da aprendizagem, como defendem Júlia Azevedo e Sandra Nogueira, do SIPE. Mas, ao fim de alguns anos, percebe que o seu entusiasmo não conta para subir na carreira. O colega ao lado, que faz o mínimo, que repete as mesmas aulas há décadas, avança mais rápido só porque tem mais anos de serviço. Onde fica a motivação? Onde fica a justiça? A meritocracia, tão celebrada noutros setores, é aqui uma miragem. E os sindicatos, em vez de lutarem por um sistema que premeie a qualidade, parecem agarrados a uma visão que privilegia a antiguidade, como se o tempo, por si só, fosse sinónimo de excelência.
Não me entendam mal. Os sindicatos são essenciais. Sem eles, os professores estariam ainda mais desprotegidos, à mercê de reformas mal pensadas, como a tentativa de municipalização da educação, que felizmente foi travada. Mas quando a luta se centra apenas em questões temporais os famosos 6 anos, 6 meses e 23 dias de serviço congelado e ignora a necessidade de valorizar competências, algo se perde. A FENPROF, por exemplo, insiste na revisão do Estatuto da Carreira Docente, mas raramente ouvimos propostas concretas para integrar critérios de mérito, como a formação especializada ou a inovação pedagógica. Em 2018, um artigo no Público já alertava: “Centrar a luta dos professores na contagem do tempo de serviço, sem mais, é apostar na promoção da mediocridade.” E essa crítica, embora dura, ecoa ainda hoje.
A educação em Portugal sofre. O mal-estar docente é palpável, com burnout a crescer e milhares de professores a abandonar a profissão 3.167 aposentaram-se só desde o início do ano letivo, segundo a FENPROF. E os sindicatos, em vez de canalizarem a sua força para uma revolução que coloque a qualidade do ensino no centro, parecem presos a batalhas defensivas, a guerras de trincheira que protegem o status quo. A verdadeira luta, como dizia um artigo de 2018, deveria ser pela autonomia das escolas, pela valorização da formação contínua e gratuita, por uma carreira que premeie quem inova e inspira. Mas, em vez disso, vemos greves que, embora legítimas, muitas vezes deixam os alunos sem aulas, como as convocadas pelo STOP em 2023, e negociações que se arrastam sem mudar o essencial.
E os alunos? Esses são os grandes esquecidos. Enquanto os sindicatos e o Ministério trocam argumentos, as crianças e jovens ficam reféns de um sistema que não evolui. A escola pública, que deveria ser o pilar da democracia, definha sob o peso de uma burocracia asfixiante e de um modelo que não reconhece o mérito. Um professor motivado, criativo, competente, é um tesouro. Mas quando o sistema e, por extensão, os sindicatos tratam-no como um número, um conjunto de anos, esse tesouro perde o brilho.
Não é tarde para mudar. Os sindicatos podem ser a força que empurra a educação para o futuro. Imaginem uma luta que exija não só salários justos, mas também investimento em formação, incentivos para a inovação, avaliações que valorizem o impacto real na aprendizagem. Imaginem uma carreira docente onde o tempo seja apenas um dos critérios, ao lado da dedicação, da criatividade, do compromisso com os alunos. Essa seria uma luta apaixonante, uma luta que uniria professores, pais e estudantes num objetivo comum: uma escola pública vibrante, justa, transformadora.
Por agora, porém, os sindicatos parecem presos a um guião antigo, onde o relógio dita as regras e a meritocracia é uma nota de rodapé. E enquanto o tempo avança, a educação em Portugal continua a arder, à espera de quem apague o fogo e construa algo novo das cinzas.
Os sindicatos de professores, como a FENPROF e o SIPE, têm uma história de luta admirável. Décadas de greves, vigílias e petições moldaram conquistas que ninguém pode negar: a recuperação do tempo de serviço congelado, melhores condições para docentes deslocados, proteção contra a violência nas escolas. Em 2024, por exemplo, o acordo com o Ministério da Educação permitiu que 91.275 professores chegassem aos escalões mais altos da carreira, com salários entre 2.658 e 3.613 euros brutos até julho de 2027. Uma vitória, sem dúvida, fruto da persistência sindical. Mas a que custo?
O cerne do problema está na forma como essas lutas são travadas. A carreira docente, tal como está estruturada, valoriza acima de tudo o tempo. Anos de serviço são o bilhete dourado para progressões e aumentos, enquanto as competências, a inovação e o impacto real na sala de aula ficam muitas vezes na sombra. Um professor que transforma as suas aulas com métodos criativos, que investe em formação contínua ou que inspira os alunos a irem além do currículo não vê esse esforço refletido na sua progressão. Em vez disso, o relógio é rei. E esta lógica, defendida com unhas e dentes por muitos sindicatos, cria uma cultura de estagnação, onde o mérito é um convidado indesejado.
Pensem nisto: um jovem professor, cheio de ideias, entra numa escola com projetos inovadores – talvez aulas que integrem tecnologia, ou métodos que coloquem o aluno no centro da aprendizagem, como defendem Júlia Azevedo e Sandra Nogueira, do SIPE. Mas, ao fim de alguns anos, percebe que o seu entusiasmo não conta para subir na carreira. O colega ao lado, que faz o mínimo, que repete as mesmas aulas há décadas, avança mais rápido só porque tem mais anos de serviço. Onde fica a motivação? Onde fica a justiça? A meritocracia, tão celebrada noutros setores, é aqui uma miragem. E os sindicatos, em vez de lutarem por um sistema que premeie a qualidade, parecem agarrados a uma visão que privilegia a antiguidade, como se o tempo, por si só, fosse sinónimo de excelência.
Não me entendam mal. Os sindicatos são essenciais. Sem eles, os professores estariam ainda mais desprotegidos, à mercê de reformas mal pensadas, como a tentativa de municipalização da educação, que felizmente foi travada. Mas quando a luta se centra apenas em questões temporais os famosos 6 anos, 6 meses e 23 dias de serviço congelado e ignora a necessidade de valorizar competências, algo se perde. A FENPROF, por exemplo, insiste na revisão do Estatuto da Carreira Docente, mas raramente ouvimos propostas concretas para integrar critérios de mérito, como a formação especializada ou a inovação pedagógica. Em 2018, um artigo no Público já alertava: “Centrar a luta dos professores na contagem do tempo de serviço, sem mais, é apostar na promoção da mediocridade.” E essa crítica, embora dura, ecoa ainda hoje.
A educação em Portugal sofre. O mal-estar docente é palpável, com burnout a crescer e milhares de professores a abandonar a profissão 3.167 aposentaram-se só desde o início do ano letivo, segundo a FENPROF. E os sindicatos, em vez de canalizarem a sua força para uma revolução que coloque a qualidade do ensino no centro, parecem presos a batalhas defensivas, a guerras de trincheira que protegem o status quo. A verdadeira luta, como dizia um artigo de 2018, deveria ser pela autonomia das escolas, pela valorização da formação contínua e gratuita, por uma carreira que premeie quem inova e inspira. Mas, em vez disso, vemos greves que, embora legítimas, muitas vezes deixam os alunos sem aulas, como as convocadas pelo STOP em 2023, e negociações que se arrastam sem mudar o essencial.
E os alunos? Esses são os grandes esquecidos. Enquanto os sindicatos e o Ministério trocam argumentos, as crianças e jovens ficam reféns de um sistema que não evolui. A escola pública, que deveria ser o pilar da democracia, definha sob o peso de uma burocracia asfixiante e de um modelo que não reconhece o mérito. Um professor motivado, criativo, competente, é um tesouro. Mas quando o sistema e, por extensão, os sindicatos tratam-no como um número, um conjunto de anos, esse tesouro perde o brilho.
Não é tarde para mudar. Os sindicatos podem ser a força que empurra a educação para o futuro. Imaginem uma luta que exija não só salários justos, mas também investimento em formação, incentivos para a inovação, avaliações que valorizem o impacto real na aprendizagem. Imaginem uma carreira docente onde o tempo seja apenas um dos critérios, ao lado da dedicação, da criatividade, do compromisso com os alunos. Essa seria uma luta apaixonante, uma luta que uniria professores, pais e estudantes num objetivo comum: uma escola pública vibrante, justa, transformadora.
Por agora, porém, os sindicatos parecem presos a um guião antigo, onde o relógio dita as regras e a meritocracia é uma nota de rodapé. E enquanto o tempo avança, a educação em Portugal continua a arder, à espera de quem apague o fogo e construa algo novo das cinzas.
Comentários
Enviar um comentário